Crise afeta saúde mental, e lidar com isso será chave na era pós-pandemia
Quando fundei a NoFront, em 2018, eu queria que o debate sobre dinheiro chegasse às pessoas trabalhadoras, mais pobres e principalmente às pessoas negras. Foi o ano em que, depois de descobrir uma grave discriminação salarial, abracei a urgência de popularizar as discussões econômicas dentro dos grupos socialmente minorizados: negros, mulheres, LGBTQI+ e pessoas periféricas.
Com o objetivo de tornar esse aprendizado mais próximo da realidade da maior parte do país, desenvolvi uma metodologia de ensino inédita: educação financeira através do rap. Com base nas músicas do Racionais MC’s, o mais importante grupo de rap do país, demonstro como as pessoas pobres já aplicavam a educação financeira no dia a dia, como elas podem administrar suas finanças e como isso é uma fonte de saúde mental, principalmente em momentos de crises econômicas e aumento do desemprego.
Hoje, vivemos em uma pandemia, com mais de 500 mil mortes, devido à covid-19 no país. Muitas famílias se desestruturam com a perda de familiares responsáveis pela renda de suas casas. Tudo isso impactou significativamente na saúde mental de milhões de brasileiros, que estão convivendo com inúmeras perdas, além do medo de se contaminar pelos vírus. Grande parte dessas pessoas não tem acesso a apoio psicológico, o que gerou (e gera) vários impactos sociais, econômicos e emocionais.
Além disso, o desemprego e a fome são temas que necessitam de atenção, por impactarem a saúde integral e mental. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país tem hoje 14 milhões de desempregados. Em 2020, 19 milhões de brasileiros passaram fome, de acordo com o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan).
Dessa forma, é preciso pensar quais caminhos queremos traçar para uma prosperidade econômica, social e atenta à saúde integral e mental para a construção de uma nova sociedade, principalmente neste momento em que as diversidades, as sustentabilidades e os critérios de ESG estão sendo mais debatidos. Também é urgente construir uma nova era para o pós-pandemia, pautando a saúde mental, a elaboração do luto e a retomada econômica, que compreenda as especificidades das desigualdades sociais.
Com mais 100 mil pessoas alcançadas pelas redes sociais, a NoFront nasceu com o propósito de contribuir com a organização financeira da comunidade negra e periférica, por meio do rap, empoderando e trazendo o protagonismo financeiro para pessoas que nunca tiveram acesso a esse assunto, mostrando que administrar as suas finanças também é uma fonte de saúde mental.
Deixe um comentário